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domingo, 19 de março de 2017

Uma canção e um sorriso

      “ Ando devagar/ Porque já tive pressa / E levo esse sorriso ...”  Sempre que ouço esta música  um sorriso brota de minhas lembranças. Um sorriso de descoberta, de vitória. E que felicidade tive em presenciar esse momento!
      Eu estava lecionando para uma turma de 2° ano (antiga primeira série). Era nova na escola e com apenas poucos anos de magistério. Na verdade, tinha mais experiência com as crianças maiores do que com as menores. E , de repente, estava eu ali, numa escola do interior, tendo que alfabetizar alguns alunos que foram obrigados a passar de ano, porque não tinham mais idade para continuar no antigo C. A . Nunca tinha alfabetizado . Na verdade, eu nem sabia por onde começar!  Fiquei muito angustiada! Tinha duas realidades na sala de aula: crianças alfabetizadas e crianças ( mais velhas) que mal sabiam escrever o nome. Como lidar com essas duas realidades? Que fazer? Como evitar que aquelas, “mais fracas”, não se sentissem diminuídas diante dos colegas?
      Se me perguntarem que método usei, não sei dizer...  O que sei é que novamente a música de Almir Sater me vem a mente: “ É preciso amor / pra poder pulsar”. Acho que foi o amor pela profissão que me fez buscar a solução. Conversei com minha colega da série anterior, peguei umas cartilhas com a direção, li alguns artigos, troquei algumas ideias com colegas, busquei algumas respostas em livros de Paulo Freire e lancei-me ao desafio.
     O dia a dia não foi fácil. No primeiro mês, errei mais do que acertei. Insisti, não desisti. E parte da turma ia andando. Alguns evoluíam, outros não saíam do lugar. E o resto da turma, caminhando a passos largos. Com esses eu pouco me preocupava. Só tinha que prosseguir com o trabalho. Já com os outros, que preocupação! Eu percebia que a maioria deles só ia para a escola por causa da comida. Não tinham ajuda nenhuma em casa. Incentivo? Pelo contrário! Os pais diziam que não davam para o estudo e , coitados, já estavam rotulados de “ burros”. A pior coisa para um professor é tirar da cabeça de uma criança que ela “ é burra”, “ não dá para o estudo”. De tanto ouvirem isso, acreditam. Ainda mais vindo de dentro de casa.! Não culpei os pobres pais. Eles não sabiam o mal que estavam cometendo.
      Além de alfabetizar, eu queria integrar as crianças. Queria que elas se sentissem uma turma. Passei a levar livros de histórias para a sala de aula. Nós tínhamos um momento de leitura diária. Deixava que manuseassem os livros e depois lia para elas. Era maravilhoso ver seus olhinhos brilhantes diante dos livros. Tinham um cuidado ao tocá-los como se fossem partir em mil pedacinhos. E foi assim que vi pela primeira vez os olhinhos de Rodrigo em cima de um livro. Em algum momento, aquele livro despertou-lhe a vontade de ler.
      Um livro e uma criança. Uma criança e uma vontade imensa de desvendar o segredo das palavras. Rodrigo se lançou ao mundo dos livros. A cartilha, já suja e rasgada, agora era companheira fiel. Naquele dia, quando fui tomar-lhe a lição, Rodrigo estava diferente. Nem eu nem ele havíamos percebido a descoberta ainda. E, quando ela veio... Quando ele se viu lendo sozinho, sem minha ajuda, abriu um sorriso largo. Era um sorriso branco, puro, alegre. Sorriso de vitória. Quando olhou para mim, disse: “ Tia, por que  você está chorando?” . Não sabia o que dizer. Eu havia conseguido. Rodrigo estava lendo! “ É preciso a chuva para florir”...
      Depois de Rodrigo, outros também conseguiram. Alunos até mais trabalhosos, mais velhos que Rodrigo. A satisfação foi a mesma, mas o sorriso daquele menino ficou marcado  para sempre...
      Nunca pensei que uma canção mexesse tanto com minhas lembranças. “Hoje me sinto mais forte, /Mais feliz, quem sabe /Só levo a certeza/ De que muito pouco sei/,Ou nada sei” ...



Mônica Miranda Carneiro da Silva - maio 2014

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

ESQUECIMENTO

( Fonte da imagem: poderdeouvir.blogspot.com)


O luar é breve ,

assim como nossos sonhos.

Eles persistem, é claro!

Mas são feitos de vento.

Tombam árvores,

destroem tudo por onde passam

e deixam o coração da gente em pedaços...

Assim é o objeto ( coisa) esquecido

Estão lá, isso sabemos, mas são deixados num canto,

Aprisionados por nós, almas perenes.

Se objetos tivessem vida, certamente verteriam lágrimas...

Ninguém gosta de ser esquecido,

Enjaulado em sim mesmo,

Desgovernado e infeliz...

Gostaria de apagar para sempre dos dicionários essa palavra...

E fazer com que o luar deixe de ser breve momento.

ESQUECIMENTO, sombra triste de uma saudade que partiu.


( Mônica Miranda Carneiro da Silva)

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

POEMA DE SETE FACES


Hoje acordei com esse poema de Drummond na cabeça.
Acho que ele traduz meu atual estado de espírito.







POEMA DE SETE FACES


Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.


As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.


O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.


O homem atrás do bigode
é serio, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.


Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.


Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.


Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.